Camille Claudel

Uma Mulher

2010-01-01


Sakountala
(também conhecida por “O abandono” ou ainda por “Vertumno e Pomona”, deuses da mitologia romana, nomes que a própria Camille também considerou)


Escultura de Camille Claudel, de uma delicadeza ímpar, que obriga a uma reflexão sobre o destino. Com ela, a artista pretende dar vida a um kamasutra artístico inspirado no famoso poema indiano, reelaborado a partir do poeta Kalidasa, séc. IV e V, e contado por Vyasa no Mahabharata, tendo sido depois traduzido magistralmente por Goethe. Esse poema inspirou igualmente Franz Schubert (1797-1828) para o seu “Singspiel Sakuntala”, em 1820, e Franco Alfano (1875-1954) para a sua ópera baseada na lenda de Sakountala, em 1921.

Baseando-se numa história hindu, de mistura com a mitologia grega, na qual a protagonista é a ninfa Sakountala, Camille coloca a mulher abandonada nos braços do homem suplicante. A mulher está de tal maneira equilibrada que mal toca o corpo do homem, não chegando sequer a prender o homem num abraço. Esse abandono resume-se, portanto, a uma inclinação da cabeça e de um braço. O gesto, de uma extrema suavidade, é tão delicado que parece uma concessão ao apelo do homem, cujo abraço também é gentil e não traduz esforço, apenas afecto. O corpo do homem também mostra delicadeza e uma certa fragilidade, não exibindo músculos fortes como vulgarmente o corpo do homem é apresentado.

Dir-se-ia tratar-se de uma imagem de bem-estar, que só o amor puro permite alcançar. É a ideia de elevação espiritual na experiência amorosa, representada com uma leveza e espontaneidade absolutamente sublimes.

O irmão, Paul Claudel, escreveu sobre esta obra: “(…) (nela) o espírito é tudo; o homem ajoelhado não é mais que desejo; com o rosto levantado aspira, mais do que se atreve a segurar, este ser maravilhoso, esta carne sagrada que, de um plano superior, lhe coube como sorte. Pesada, ela cede a esse peso que é o amor; um dos braços pende, separado, como um ramo que termina no fruto; o outro cobre-lhe os seios e protege o coração, supremo asilo da virgindade. É impossível ver algo ao mesmo tempo mais ardente e mais casto”.



(por Ruben Marks)