Camille Claudel

Uma Mulher

2010-01-01

Camille - Uma Mulher
ou
A Paixão segundo Camille
Espectáculo de Ruben Marks, pelo TAN-Teatro a Norte / Ruben Marks
Sobre o espectáculo - 1

O meu primeiro escrito de algum relevo, entre uma pobre produção na juventude, aconteceu aos 18 anos e tratou-se de uma reflexão sobre a situação social da mulher, que eu, já na altura, entendia como injusta e desmerecedora.

Não admira, assim, que, ao longo de toda a minha vida, tenha pugnado pela defesa de um estatuto elevado e digno para a mulher, de igual parceria com os homens na construção do futuro da humanidade, tanto no aspecto social, cultural e político, como no aspecto humano em toda a sua dimensão.

Para isso, também contribuiu o meu percurso profissional, que, ao longo de 45 anos, tanto no ensino, como nas artes cénicas, especialmente na dança, tem sido trilhado, de forma esmagadora, em contacto com mulheres, que, nestas áreas, marcam presença forte e maioritária em comparação com os homens. Essa situação, deu-me a possibilidade de estar atento ao mundo feminino, de uma maneira que a maior parte dos homens nunca pode fazer.

Como criador, sendo profundamente sensível a todas as questões de cidadania, ou seja, de profundo e sagrado respeito pelo outro e de delicadeza no relacionamento humano, tenho, por isso, tido oportunidade de abordar o sensível feminino nalgumas obras artísticas, para além de dedicar muitos pensamentos e muitos escritos a essa “causa”. Não como “cavaleiro andante” em sua defesa, que não precisam, mas como simples e humilde observador de injustiças.

Compreendido isto, é fácil perceber que este espectáculo que agora apresento, depois de 35 anos em “incubadora”, pode significar uma homenagem à mulher, revelando diferentes facetas caracteriais do vasto mundo sensitivo feminino.

Acresce a tudo isto, que, ao longo da minha vida, sempre me senti atraído e entusiasmado pelas figuras de certo modo heróicas de mulheres artistas, rebeldes, místicas, revolucionárias, apaixonadas e de vidas dramáticas.

Conservadas em submissão durante milhares de anos, as mulheres eram (ainda o são hoje em muitas zonas do mundo) mantidas dia e noite, sob o domínio dos varões. “As mulheres são criadas apenas para agradar aos homens. (…) Como são incapazes de julgar por si próprias, devem sempre ater-se ao juízo dos pais e dos maridos”, escreveu Rousseau, um dos mais conceituados pensadores e pedagogos do séc. XVIII. Afirmação esta que, vinda de quem vem, não deixa de ser significativa sobre o entendimento que mesmo figuras centrais do panorama intelectual mundial, tiveram e têm sobre a mulher…

(…)

(continua)

(por Ruben Marks)