Camille Claudel

Uma Mulher

2010-01-01

Camille - Uma Mulher
ou
A Paixão segundo Camille

Espectáculo de Ruben Marks, pelo TAN-Teatro a Norte / Ruben Marks


Sobre o espectáculo - 2
(continuação)

(…)

Até à data da Guerra Civil nos Estados Unidos (1861-65), as mulheres, na civilização ocidental, eram maltratadas e presas só por falarem em público, e só há um século têm estatuto de parceiras iguais perante a lei. Ainda que, na sua aplicação prática, tal estatuto pouco tem de verdadeiro, com os constantes atropelos a que fomos assistindo ao longo do séc. XX. E isto passa-se no mundo “avançado”, porque o que se passa no “outro mundo”, fora da esfera dos países ditos civilizados, é absolutamente vergonhoso, onde centenas de milhões de mulheres ainda são violadas nos seus mais importantes direitos humanos, físicos, psíquicos e morais.

Apesar disso, neste nosso mundo “civilizado” e mesmo com todos os obstáculos que se lhes foram colocando no caminho, as mulheres têm revelado feitos brilhantes, por vezes heróicos, e são responsáveis por uma significativa parte da evolução humana, abrindo, ainda que por vezes de forma trágica, soluções novas e surgindo como arquétipos em muitos domínios. Ainda que não sejam bem reconhecidas nos mais variados domínios e por uma significativa parte da população masculina, como parceiras de iguais direitos, o que se revela de enorme e dolorosa injustiça.

De entre uma vasta plêiade de mulheres talentosas, que deixaram marcas importantes na história, pelos feitos reais e pela directriz afectiva dos seus impulsos emotivos, a vida e o destino de Camille Claudel estão, para mim, no topo do meu apaixonado interesse.

Com este espectáculo, tratando de uma mulher específica, não deixo de apresentar diferentes expressões da paixão feminina, sentimento que, como exprime Kant na sua “Antropologia” é “uma doença que resulta de uma constituição viciada ou de um veneno absorvido”. O sentimento apaixonado a que muitas mulheres se entregaram, determinando a sua vida numa intrincada elaboração inconsciente de embriaguez, esteve, pois, na origem da ideia de montar um espectáculo sobre esta escultora de génio.

(…)

(continua)

(por Ruben Marks)