Camille Claudel

Uma Mulher

2010-01-01

Camille - Uma Mulher
ou
A Paixão segundo Camille
Espectáculo de Ruben Marks, pelo TAN-Teatro a Norte / Ruben Marks
Sobre o espectáculo - 3
(continuação)

(…)


A História está cheia de outras estórias de vida, de lutas, de percursos de sobrevivência, de medos, de vitimização, de dedicada paixão absoluta, de muitas outras mulheres. A razão por que me envolvi apaixonadamente com a de Camille Claudel, não a sei explicar, mas a tal não será alheio o facto de, por ser dedicada ao Corpo – o meu interesse preferencial, em todas as suas dimensões –, a Escultura ser para mim um campo óbvio de leitura e contemplação, reflexão e entusiasmo. A Escultura é uma empolgante história de movimento.

O dramático da vida de Camille Claudel, que passou de artista brilhante e figura da vida artística parisiense, à reclusão num hospital psiquiátrico durante trinta anos, até à sua morte, faz da sua figura uma personagem lendária, à qual só muito recentemente se começou a fazer justiça.

Cheia de contradições interiores, viveu uma vida verdadeiramente dramática e extremamente dolorosa, que redundou num completo fracasso sentimental. Os maravilhosos dons com que a natureza a dotou, não foram suficientes para a afastar de um destino de desgraça e miséria.

Ao longo da peça, tenta-se mostrar o comportamento paranóico desta genial escultora, que se sente perseguida, que chora, ri, desespera, olha desconfiada, fala sozinha, grita, parte as suas esculturas num assomo de raiva, enquanto fala sobre memórias passadas, contando diferentes acontecimentos com Rodin, com Debussy, com a mãe, com o pai, com o irmão Paul, etc.

Assiste-se a relatos desesperados sobre a sua relação com Rodin, acusando-o de roubo da sua obra e de nunca a ter tomado por mulher, deixando a mãe do seu filho, Rose Beuret. Esses episódios encontram-se referidos em cartas que Camille vai escrevendo/lendo. Também se mostram cenas com os pais, com o irmão e com Rodin, bem como uma dança com o seu amigo Debussy, com quem se especula que possa ter tido um caso, já depois da ruptura com Rodin. E também serão apresentadas, em movimento, algumas das mais significativas esculturas de Camille Claudel.

Neste espectáculo, algumas personagens são desdobradas. Por exemplo, a própria Camille Claudel será representada por 4 elementos, uma actriz que a representa já hospitalizada e mais velha, uma actriz que a representa mais nova, em meia dúzia de situações, uma bailarina e uma adolescente, para uma cena mais infantil com o irmão. Assim como Paul Claudel, desdobrado em adolescente, adulto e bailarino, e Rodin, actor e bailarino.


(por Ruben Marks)